Chorão
Carpobrotus edulis
Créditos: 
Pedro Geraldes

Com a intenção de “melhorar” a natureza, tornando-a “mais bonita” ou com “mais biodiversidade”, a introdução de espécies exóticas invasoras resulta, regra geral, em situações descontroladas e destrutivas dos ecossistemas. O chorão é um destes casos.

O chorão é uma planta exótica, porque foi trazida da África do Sul e introduzida em vários países por motivos ornamentais e medicinais, mas também para conter o movimento de dunas e controlar a erosão do solo. No entanto, a impressionante capacidade de propagação vegetativa (i.e. de se reproduzir sem semente), e de produção e propagação de sementes, levou a que o chorão rapidamente colonizasse grandes áreas, tornando-se uma planta invasora, nos locais onde foi introduzido. A expansão descontrolada do chorão deu-se especialmente nos sítios com condições semelhantes aos climas mediterrânicos, como é o caso do sudoeste da Austrália, Califórnia, costa central chilena e, obviamente, toda a bacia do mediterrâneo; mas também em locais onde as condições climáticas não são tão favoráveis, tal como nas ilhas Britânicas, Irlanda e Nova Zelândia. Em Portugal o chorão também se alastrou de forma descontrolada ao longo de praticamente toda a costa Atlântica, sendo considerada uma espécie invasora desde 1999 e, por essa razão, a sua plantação é proibida no nosso país.

Nos locais onde o chorão tem condições para se desenvolver, rapidamente se espalha e toma conta do espaço. É uma planta muito resistente que tolera elevada exposição e intensidade solar, aguenta vários meses de seca, e consegue estabelecer-se e desenvolver-se em solos com alguma salinidade. Ao crescer descontroladamente, o chorão domina por completo o espaço disponível ao formar densos tapetes contínuos que são praticamente impenetráveis por outras plantas. Depois de instalado, o chorão tem um crescimento contínuo e os tapetes tornam-se gradualmente mais espessos, aumentando grandemente a matéria orgânica, o que resulta na alteração das propriedades químicas do solo (aumenta teor de azoto e carbono e reduz o ph), o que, por sua vez, tem consequências sérias para a germinação, sobrevivência, crescimento e reprodução das outras plantas. Desta forma, a presença do chorão é uma séria ameaça à conservação da vegetação natural e leva à alteração profunda da constituição e dinâmica dos ecossistemas dos sítios onde é introduzida.

A história do chorão nas Berlengas é semelhante à de muitos sítios da costa portuguesa e resto do mundo. O chorão foi levado para as Berlengas nos anos 1950. No início foi plantado junto do bairro dos pescadores, mas, sem qualquer constrangimento à sua propagação, rapidamente se alastrou por várias encostas da ilha. Estudos indicam que nas berlengas o chorão cresce muito bem sobre qualquer tipo de substrato, exposição ou inclinação, mesmo nas falésias mais escarpadas! Para além das condições ambientais ótimas para o chorão se desenvolver na ilha da Berlenga, sabe-se que os ratos-pretos, coelhos e as gaivotas-de-patas-amarelas são bons dispersores das suas sementes, o que facilita a sua dispersão - provavelmente as gaivotas são responsáveis pela chegada do chorão aos Farilhões. Com estas condições o chorão tem um crescimento exponencial com potencial de colonizar todo o arquipélago das Berlengas.

Embora as suas flores criem um bonito impacto na paisagem da ilha, nos locais onde se instalou, o chorão cobre todo o solo e compete com a vegetação autóctone. Por exemplo, a encosta da Flandres está completamente dominada pelo chorão e são poucos recantos onde outras plantas persistem e conseguem florir. Com as suas folhas muito densas e raízes fortes, o chorão é uma importante ameaça à conservação das plantas mais raras, como as campainhas-amarelas, e endémicas, como a arméria-das-berlengas, cujo lento crescimento não lhe permite competir com o chorão.

Outro problema da invasão de chorão tem a ver com a redução no número de cavidades disponíveis para a cagarra fazer o ninho. Estas aves escavam os seus ninhos no solo que ao ficar completamente coberto pelo chorão tal deixa de ser possível.

Para combater o problema do chorão o projeto LIFE Berlengas vai proceder à remoção total do chorão da ilha das Berlengas e ilhéus adjacentes. Até finais de 2014 o chorão cobria completamente as encostas do carreiro do Mosteiro e a Flandres, estando ainda presente noutros pontos da ilha [esquema ou mapa]. Com o início dos trabalhos do LIFE Berlengas, esta situação está a inverter-se. Seguindo diretivas internacionais, a equipa do projeto iniciou a remoção do chorão em faixas ao longo das curvas de nível do terreno. O chorão é retirado manualmente, enrolado e deixado a secar em cima do tapete de chorão abaixo. Numa segunda fase, as entrelinhas que ficaram com chorão serão removidas. Em 2018 espera-se que todo o chorão da ilha da Berlenga tenha sido arrancado!